Autor: Rhony Alan Gomes e Barros - PY1MHQ
Artigo publicado na Eletrônica Popular N.1 Vol. 46 de 1979
Um pequeno e eficiente transmissor para o novato ou para o "bengala branca".
Econômico, fácil de construir e muito robusto, esse transmissorzinho é ideal para os radioamadores com deficiência de visão, pois pode ser sintonizado auditivamente, ou para os possuidores de pouca prática, por sua simplicidade. O presente projeto possui quatro características, aliás pouco comuns em equipamentos QRP simples.
1) Pode ser sintonizado auditivamente, orientando-se a sintonia por um tom de áudio. Os elementos que propiciam isso constituem, igualmente, um excelente monitor de CW.
2) Cuidados especiais foram adotados para permitir operação isenta de riscos para o operador com deficiência total ou parcial de visão.
3) Foi adotada a manipulação por bloqueio de grade, visando dupla finalidade: os contatos do manipulador não apresentam risco de choques elétricos e permitem que sejam utilizados em conjunto com o transmissor os modernos manipuladores eletrônicos, quase todos incapazes de manipulação em catodo.
4) O projeto é simples, a construção fácil e econômica, de modo a constituir um atraente equipamento para os colegas que pouca prática em montagens eletrônicas, cujo o prêmio, depois do êxito final, é a possibilidade da operação QRP ( em baixa potência ), cada vez mais difundida entre nós.
Para justificar o título 4 x 1, esse transmissorzinho é monovalvular - utilizando a conhecida 6AQ5.
O CIRCUITO
Na fig.1 vemos o diagrama esquemático completo do 4 x 1. V1 funciona como osciladora a cristal e entrega o sinal de R.F. ao tanque final, de constituição bastante simples, e ao circuito de antena. A derivação em L1 adapta as impedâncias e fornece condições para a inclusão dos dispositivos de sintonia, selecionados por intermédio de CH1: sintonia visual ( posição "L" ), sintonia auditiva ( posição "M" ) e operação sem monitoragem ( posição "D" ).
Uma pequena "amostra" da tensão de R.F. presente no circuito de saída, retirada por C9 e R11, é retificada por D4 e alimenta o oscilador de áudio constituido por TR1, T2 e componentes associados. Quanto maior essa tensão, ou seja, quanto maior a tensão de saída, mais aguda e intensa será a nota de áudio emitida pelo auto-falante, sendo este o principio que permite a sintonia auditiva do equipamento. Este circuito consome muita pouca energia, de modo que pode permanecer constantemente ligado, tornando-se um ótimo monitor de CW, além de alertar ao eventual operador destituído de visão as possíveis variações na sintonia.
Para a sintonia visual, CH1, quando na posição "L", coloca LP1 em série com a antena. A lâmpada acenderá com brilho tanto mais intenso quanto maior for a corrente que atravessa, ou seja, quanto maior for a saída de R.F. Com antenas de 53 ohms de impedância ( verticais, V invertido ) o brilho pode ser tão intenso que haverá risco de queimar a lâmpada; daí a inclusão de R10, que evitará esse problema. O valor definitivo desse resistor dependerá da antena a ser utilizada com o 4 x 1. Se o brilho for intenso demais, comece por experimentar 220 ohms ( 1/4 W ) para R10. Com antenas dipolo de meia onda, R10 poderá ser eliminado do circuito.
Alguns poderiam sugerir sintonia fixa para o tanque final desse transmissor. verificamos entretanto, que o ponto ideal de sintonia varia com o cristal utilizado, como tipo de antena e com as variações manhã/tarde/noite e da tensão da rede de distribuição de energia elétrica.
A fonte de alimentação é do tipo comum e dispensa maiores comentários. Apenas vale apontar como é obtida a tensão para o bloqueio de V1. Para tanto, um retificador de meia onda (D1, R4 e C6) entrega cerca de -320V C.C. a um divisor de tensão constituido por R6 e R7. A tensão de bloqueio obtida (mais ou menos -115V C.C.) é levada à grade de controle de V1por intermédio de R2 e R1. O jaque de manipulador está disposto de tal forma que permite aterrar o extremo de R1, curto-circuitando a tensão negativa de bloqueio de quando o manipulador estiver apertado, permitindo que V1 entre em oscilação. A finalidade de R2 é evitar que a fonte seja curto-circuitada e, por seu elevado valor, evitar que os contatos do manipulador causem choques elétricos perigosos.
MONTAGEM
A disposição dos componentes poderá variar sem prejuizo para o funcionamento do aparelho. A Fotos 1 e 2 mostram a disposição por nós adotada para os componentes de maior volume. Chamamos a atenção para a blindagem de V1, que num dos transmissores contituídos, revelou-se indispensável para eliminar uma certa "rasposidade no sinal emitido.
Com vistas à utilização desse transmissorzinho por colegas destituídos total ou parcialmente de visão, a disposição dos controles nos painéis frontal e traseiro mereceu especial atenção para permitir sua indentificação tátil: não há dois controles semelhantes ao tato. O interruptor geral CH3 foi colocado diretamente no cabo de alimentação geral, sendo do tipo usado em abajures. Também aí foi instalado o fusível em suporte totalmente isolado, do tipo utilizado em rádios de automóvel.
Todo o conjunto foi encerrado numa caixa metálica, cuidando-se de não deixar pontos "vivos" ao alcance dos dedos.
Para permitir a leitura tátil das frequências dos cristais, utilizamos pingos de Araldite na face metálica dos mesmos, orientando-se a sua posição pelos pinos desses componentes. Foram feitas duas fileiras de pingos: a primeira indicando dezenas de kHz ( 2 pingos ), 20kHz, por exemplo ) e a segunda unidades de kHz ( 8 pingos, 8 kHz ). Como todos os cristais são para 40m, a identificação da frequência torna-se fácil. Se, por exemplo, na primeira fileira houver 3 pingos e na segunda 5 pingos, a frequência do cristal em questão será de 7.035 kHz.
AJUSTES
Além do ajuste do valor correto de R10 (ou sua retirada do circuito), já referido anteriormente, há pouco mais a ajustar no 4 x 1. Apenas os valores dos componentes do oscilador de áudio merecem alguma menção. Se, porventura, os componentes empregados nesse setor do transmissor tiverem características diferentes dos que utilizamos a nota de áudio obtida poderá não ser agradável ou não estar na frequência de prefência do operador. Se isto acontecer, varie os valores de C10, R11 e C9. O valor de R9 também poderá ser diminuído (até cerca de 33k ohms ). O circuito do oscilador de áudio é muito simples e a forma de onda por ele gerada é complexa e imrevisível. Mas, com um pouco de paciência, o leitor poderá obter a nota de monitoragem que melhor lhe agradar. Devido a essa pequena dificuldade é que mencionamos a lista de material a marca e demais características do falante que utilizamos, pois o peso, diâmetro ou material desse componente poderá alterar a nota de áudio obtida. O uso em TR1 de um AC188 ou AC128 facilitou muito o ajuste final, ao contrário do que aconteceu quando usamos outros transistores.
Localização dos componentes de maior volume na parte inferior do chassi. Notar que C6 foi totalmente envolvido em fita isolante plástica.
SINTONIA
A sintonia visual é muito simples. Conecte o manipulador e a antena ao equipamento. Com CH1 na posição "L", passe CH2 para a posição "T" e aperte o manipulador. Variando a abertura de C5, procure o brilho máximo de LP1. Volte CH1 para a posição "M" e verifique se o monitor está operando corretamente.
Durante a operação normal, CH1 deve permanecer nas posições "D" ou "M", para que a lâmpada indicadora não consuma energia. Existe uma posição da abertura de C5 em que V1 deixará de oscilar. Isto é normal e indica que o tanque final está muito fora de sintonia.
Com certas antenas, o brilho máximo de LP1 não coincidirá exatamente com a máxima saída quando CH1 é passada da posição "L" para a "D"; nesses casos o sinal poderá mesmo mostrar tendência ao "piado". Entretanto, variando-se ligeiramente a abertura de C5, tudo normalizar-se-á e este pequeno deslocamento deverá ser sempre realizado. Para verificar se isto esta acontecendo em sua estação, monitore o sinal num receptor com a antena do mesmo desconectada. Este pequeno inconveniente não ocorrerá com o processo auditivo de sintonia.
A sintonia auditiva também não é difícil. No entanto, um breve período de treinamento talvez seja necessário para o operador destituído de visão. Sendo este o caso, o ideal é fazer o treinamento com uma antena "fantasma", que pode facilmente ser construido com 4 resistores de 270 ohms / 4W ligados em paralelo. Esse resitores devem ser não-indutivos, isto é, de carvão.
Coloque CH1 na posição "M", aperte o manipulador e, variando a abertura de C5, procure a nota de áudio mais intensa e aguda possível. Esta nota deve ser agradável e ter tonalidade ao gosto do operador.
Certamente o leitor já notou, examinando o esquema, que o +B nunca é desligado no 4 x 1, como acontece na maioria dos equipamentos. Esta medida é intencional, pois estando o +B constantemente ligado, breves toques no manipulador permitirão ao operador localizar no receptor da estação a frequência em que está ou irá transmitir.
DESEMPENHO
A potência de entrada em dois destes transmissores que tivemos ocasião de operar aproximava-se dos 10 W. Com antenas bem instaladas, a potência de saída é suficiente para bons QSO e DX. Aqueles que estão acostumados a operar com baixa potência poderão confirmar isso. Os que não estão, bem... experimentem o 4 x 1 !
Vista lateral. Notar a blindagem ( soldada ao chassi ) de V1. Em certos casos, esta poderá ser dispensada ( ver texto )